Total de visualizações de página

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A PERSPECTIVA DA PSICOTERARIA COMPORTAMENTAL NA CORRELAÇÃO EXISTENTE ENTRE CONTEÚDOS EMOCIONAIS E A SINTOMATOLOGIA DAS CARDIOPATIAS.


A PERSPECTIVA DA PSICOTERARIA COMPORTAMENTAL NA CORRELAÇÃO EXISTENTE ENTRE CONTEÚDOS EMOCIONAIS E A SINTOMATOLOGIA DAS CARDIOPATIAS.

Danilo Carvalho de Sá1

Julianna Tércia de Sousa Feijão1

Louise Uchoa Torres1

RESUMO

Este artigo trabalha o paralelo entre o enfoque psicossomático e a análise do comportamento em relação as patologias cardíacas, com base em referencias bibliográficas de ambas abordagens. Ele aborda a visão psicossomática das doenças cárdio vasculares e a proposta da análise do comportamento em relacionar, funcionalidade, ambiente e doença.

Palavras – chave: psicossomática, análise do comportamento e doenças cardíacas.

ABSTRACT

This article works the parallel between the psychosomatic approach and the analysis of the behavior in relation the cardiac patologias, on the basis of bibliographical of both boardings. It approaches the psychosomatic vision of the vascular illnesses cárdio and the proposal of the analysis of the behavior in relating, functionality, environment and illness

Palavras – chave: Psychosomatic, analysis of the behavior, cardiac illnesses

  1. Alunos do VIII bloco de Psicologia Diurno da FACIME – UESPI

  1. INTRODUÇÃO

Há uma significativa influência dos comportamentos emocionais (respondentes) acerca da sintomatologia das cardiopatias; a qual pode ser evidenciada nas associações em que o estresse psicossocial aliado a outros fatores orgânicos ou não, desencadeia doenças coronárias, hipertensão, arritmias e até mesmo morte súbita.

Segundo Eugene Brauwold em seu Tratado de Medicina Cardiovascular os clínicos há muito suspeitavam desta correlação da emissão das emoções com o organismo de forma diretiva, os quais, desde outrora já afirmavam que acúmulos pequenos de estresses decorrentes de conflitos do cotidiano podiam ocasionar o desenvolvimento de doenças coronarianas e cardiovasculares, principalmente no que se refere às enfermidades como: hipertensão essencial e arteriosclerose. Estes dados corroboram com o pensamento de Sir William Osler apud Eugene Brauwold que na conferência Lumleian de 1910 afirmou:

O aspecto principal era o trabalho árduo e incessante; e se o trabalho árduo – símbolo da nossa estirpe fosse o único responsável, não deveria haver um número maior de casos? Todos esses homens tinham um fator adicional – preocupação. Em nenhum caso, de indivíduos com menos de 50 anos de idade este aspecto esteve ausente.

Nesta citação percebe-se o quanto o ambiente pode interferir em um organismo, até mesmo em relação a sua parte orgânica alterando manifestações comportamentais fisiológicas; Demonstra também a idiossincrasia dos sujeitos em relação a representação e decodificação de conteúdos emocionais, estímulos aversivos, sentimentos. Após esta conferência, vários pesquisadores de doenças relacionadas ao coração como órgão - alvo pronunciaram – se enfatizando características psicossociais e ambientais também são preponderantes, assim como a herança genética na evolução e tratamento de cardiopatias.

Ainda segundo Brauwold três décadas posteriores a Conferência, Flanders Dunbar definiu pacientes cardiopatas como:

Eles são compulsivos, com tendências a trabalhar durante longas horas, não tiram férias, a empossar-se de autoridade; não gostam de dividir responsabilidades, ... articular, ... alguns traços neuróticos, ... tendência à depressão que raramente é admitida, ...tendências a minimizar sintomas, ...descuido consigo próprio...(Tratado de Medicina Cardiovascular,p1971. ed ROCA, SP-SP).

É bastante visível os antecedentes ( comportamentos ) nesta citação que promovem uma provável propensão à aquisição de uma cardiopatia ( manifestação comportamental organísmica), acarretando conseqüências não muito funcionais para o indivíduo, a não ser que o mesmo obtenha ganhos secundários com a patologia e passe a propagá-la em todas as suas relações desde o âmbito familiar, até mesmo em seu ambiente de trabalho. Observa-se, então, que contingências ambientais (filogenéticas, ontogenéticas e culturais ) contribuem para o desenvolvimento de patologias e que na tentativa de fornecer um autocontrole de determinados estímulos aversivos foi que pesquisadores como Fridman e Rosenman idealizaram um modelo, o qual continha as características mais comuns que poderiam manifestar-se em indivíduos que possuíssem potencial elevado para o desenvolvimento de cardiopatias.

O modelo enquadrava as características em dois grupos de comportamentos. No primeiro grupo foi denominado de comportamento tipo A, o qual enquadrava indivíduos que estão constantemente lutando para atingir suas metas mal definidas, o mais rápido possível, possuem excesso de competitividade, agressividade, e ritmo acelerado. Já o outro grupo foi denominado de indivíduos com o comportamento tipo B, os quais possuem manifestação comportamentais antagônicas as do primeiro grupo, como: são relaxados, menos agressivos, não lutam vigorosamente em função de uma meta.

Dessa maneira, os hábitos, todos os comportamentos desde o ato de alimentar-se, o quadro de sono e vigília dos sujeitos até os operantes culturais interferem nas conseqüências dos comportamentos, podendo alterar ou intensificar sintomatologias, uma vez que o organismo sempre se manifesta em sua integralidade. Portanto, as cardiopatias apresentam não só características orgânicas, mas podem desencadear conteúdos emocionais e aspectos psicológicos que necessitam ser sanados; requerendo dessa forma um tratamento farmacoterápico aliado a psicoterapia comportamental para estabelecer um biofeedback, um controle dos estímulos aversivos, uma discriminação do repertório comportamental do sujeito acometido por uma cardiopatia para que ele venha a modificar o seu comportamento.

PSICOTERAPIA

Tendo em vista, que as doenças coronárias e cardiovasculares desencadeiam uma certa vulnerabilidade nos indivíduos acometidos, gerando tensão e aumento de ansiedade é recomendado a utilização de psicoterapia; mesmo porque a evolução do quadro para um ato cirúrgico, ou infarto do miocárdio pode levar o indivíduo a um sintoma de invalidez após a convalescença, o qual poderá agravar-se ainda mais desenvolvendo uma depressão.

Ao longo do processo psicoterápico almeja-se a modificação do comportamento disfuncional do sujeito que está favorecendo a piora no quadro clínico, tais como: dieta inadequada, esforço físico excessivo, tabagismo, barganha de atenção obtendo ganho secundário da circunstância em que está inserido, enfim qualquer manifestação de comportamento que venha a comprometer o tratamento da enfermidade.

A abordagem psicoterápica segundo Frank, 1971; Strupp & Hadley, 1979;Altshuler apud Cordioli deve ater-se a alguns fatores obrigatórios, os quais são responsáveis pelas mudanças comportamentais necessárias para a eficácia da terapia e concomitantemente o êxito do tratamento. São eles: 1) Uma relação intensa de confiança e emocionalmente carregada com a pessoa que ajuda; 2) Uma teoria explicativa das causas dos problemas do paciente e na qual a técnica se fundamenta; 3) Acesso das novas informações sobre a natureza dos problemas e alternativas de como manejá-los; 4) Aumento das expectativas em relação a capacidade do terapeuta; 5) Possibilidade de realizar com sucesso novas experiências de vida acarretando um aumento da autoconfiança; 6) Oportunidade de expressar emoções pessoais.

Outra forma de abordagem da técnica comportamental trata-se da análise funcional, na qual através de ananmenese obtêem-se informações acerca da história de reforçamento do indivíduo com cardiopatia para que possa estabelecer quais antecedentes foram preponderantes para o comportamento disfuncional prevalecer em relação aos comportamentos funcionais que não propiciam intensificações nos agravos á saúde. Assim diante da descrição do repertório comportamental do paciente especifica-se o comportamento clinicamente relevante (CRB), o qual inclui tanto comportamentos – problemas como comportamentos finais desejados.

E através deste levantamento de dados elaborar um protocolo de observação, com o qual o terapeuta exerça o controle de estímulos aversivos e variáveis intervenientes, demonstrando ao longo da terapia interpretações de variáveis que afetam o comportamento do sujeito para que o mesmo discrimine a necessidade de modificação do seu comportamento frente a patologia. Afinal para a terapia comportamental há três ações do terapeuta que mobilizam o paciente: Para o behaviorista radical, as ações do terapeuta afetam o cliente através de três funções de estímulo: 1) Discriminativa; 2) Eliciadora; 3) Reforçadora; (Kohlenberg & MaviS,1991)

Técnicas como o biofeedback também auxiliam, na medida em que clarificam, explicam todo o processo fisiológico fazendo que com as recorrências deste comportamento respondente sejam discriminados pelo o paciente a ponto do mesmo reduzir seu quadro ansiogênico e favorecer a terapêutica, tratamento e exames por vezes incômodo. Como pode ser observado no presente artigo as aplicações da terapêutica comportamental diferem em muito de uma explicação meramente psicossomática e metafísica, para intervenções mais intensificadoras, objetivas e pragmáticas, além de psicoeducativas. Estas diferenças podem ser distinguidas no seguinte tópico:

A Psicologia Corporal é uma ciência que estuda o homem em seu aspecto somatopsicodinâmico, onde o corpo e a mente são trabalhados em seu conjunto e em sua relação funcional. Tem suas raízes nos trabalhos desenvolvidos pelo médico Austríaco Wilhelm Reich (1897-1957), que após anos de pesquisa decidiu abandonar a técnica da psicanálise quando descobriu que o corpo contém a história de cada indivíduo e é por meio dele que devemos buscar resgatar as emoções mais profundas.A não aceitação das idéias de Reich pelos psicanalistas, fez com que ele criasse sua própria escola de pensamento e técnicas específicas, cuja prática está voltada tanto ao trabalho do corpo, como da mente, derrubando o cartesianismo que imperava no tratamento das neuroses. Para Reich a base de todo o trabalho se dá na atuação direta sobre o sistema neurovegetativo (simpático e parassimpático) através de movimentos específicos que buscam a expressão das emoções. A essa técnica, Reich denominou de Vegetoterapia. Essa técnica, a pedido de Reich, foi posteriormente atualizada e complementada pelo neuropsiquiatra italiano Federico Navarro.

“O termo psicossomático, após séculos de estruturação, surgiu no século passado, através de Heinroth, com a criação das expressões psicossomática (1918) e somatopsíquica (1928).” (Mello Filho, 1992).

As doenças psicossomáticas surgem como conseqüência de processos psicológicos e mentais do indivíduo, desajustados das funções somáticas e viscerais e vice-versa. Caracterizam-se as possibilidades de distúrbios de função e de lesão nos órgãos do corpo, devido ao mau uso e ao efeito degenerativo, e descontroles dos processos mentais. Diferenciam-se neste ponto das doenças mentais, em que o mau desempenho não é opcional.

A medicina psicossomática, através da sua visão holística, tem considerações quanto aos cuidados dos pacientes que envolvem a avaliação do papel dos fatores psicossociais que afetam a vulnerabilidade individual a todos os tipos de doença, quanto à interação entre os fatores psicossociais e biológicos no curso da doença e quanto ao uso de terapias psicológicas para a prevenção, reabilitação e tratamento de doenças.” (CASTRO, ANDRADE E MULLER, 2006)

Distúrbios emocionais desempenham papel importante, precipitando início, recorrência ou agravamento de sintomas, distinguindo das doenças puramente orgânicas. Porém, elas podem se transformar em doenças crônicas ou ter com um curso fásico. Tendem a associar-se com outros distúrbios psicossomáticos. Isso pode ocorrer numa família, em diferentes períodos da vida de um paciente ou em certos ambientes de trabalho e até de lazer. Mostram grandes diferenças de incidência nos dois sexos.

A Doença Coronariana pode desenvolver-se sem expressar sintomas durante vários anos, e quando tais sintomas estão presentes, classicamente começam a aparecer logo da segunda metade da vida. Os processos fisiopatológicos coronarianos de longo prazo se encontram relacionados com a disfunção endotelial e lesões arteroscleróticas, enquanto que os processos fisiopatológicos de curto prazo resultam de complicações agudas, como por exemplo, da ruptura da placa de ateroma e a conseqüente formação de trombos, isquemia miocárdica o desenvolvimento de arritmias ventriculares (Ballone,apud Pepine 1997).

Apesar de controvertidas opiniões nos últimos anos, é cada vez mais consensual que os eventos psíquicos possam modificar, mais cedo ou mais tarde, a historia natural da Doença Coronariana. As investigações experimentais em animais e os estudos epidemiológicos e clínicos em humanos apontam para essa evidencia médica (U.S. Department of Health ande Humam Services, 1998). Hoje, sabe-se que diferentes situações estressantes, agudas ou crônicas, podem precipitar isquemia cardíaca, arritmias, Infarto do Miocárdio e/ou a morte súbita.

É forte a suspeita de que, tanto a perfusão miocárdica, o ritmo e a variabilidade da freqüência cardíaca, como também a reação plaquetária poderiam ser modulados pelo eixo hipotálamo–hipofisário–supra-renal.

O Sistema Límbico, onde se inclui o hipotálamo, que coordena as diversas funções neurovegetativas, inclusive as funções cardiovasculares, é tido como a sede das emoções. Essas funções neurovegetativas implicam na regulação do sistema nervoso autônomo simpático e do sistema nervoso autônomo parassimpático. Portanto, em essência, compete ao hipotálamo, nos Sistema Límbico, atuar sobre os diversos órgãos internos e estruturas orgânicas, estimulando-as ou inibindo-as através do Sistema Nervoso Autônomo (SNA), mais conhecido como Simpático-Parassimpático.

A toda situações de estresse e ansiedade o organismo reage liberando catecolaminas

(adrenalina e noradrenalina) e corticosteróides, seja por ação direta do sistema simpático, o qual coloca o organismo em estado de alerta, seja por ação indireta do SNA sobre as supra-renais.
Essas catecolaminas e os corticóides aumentados no estresse produzem uma vasta série de alterações no organismo.

A

palavra estresse quer dizer "pressão", "tensão" ou "insistência", portanto estar estressado quer dizer "estar sob pressão" ou "estar sob a ação de estímulo insistente". É importante não confundir estado fásico de estresse com estado de alarme de Cannon, pois há alguns critérios estabelecidos para que se possa assumir que um indivíduo está estressado e não simplesmente com alerta temporária. Chama-se de estressor qualquer estímulo capaz de provocar o aparecimento de um conjunto de respostas orgânicas, mentais, psicológicas e/ou comportamentais relacionadas com mudanças fisiológicas padrões estereotipadas, que acabam resultando em hiperfunção da glândula supra-renal e do sistema nervoso autônomo simpático. Essas respostas em princípio tem como objetivo adaptar o indivíduo à nova situação, gerada pelo estímulo estressor, e o conjunto delas, assumindo um tempo considerável, é chamado de estresse. O estado de estresse está então relacionado com a resposta de adaptação.

O estresse é essencialmente um grau de desgaste no corpo e da mente, que pode atingir níveis degenerativos. Impressões de estar nervoso, agitado, neurastênico ou debilitado podem ser percepções de aspectos subjetivos de estresse. Contudo, estresse não implica necessariamente uma alteração mórbida: a vida normal também acarreta desgaste na máquina do corpo. O estresse pode ter até valor terapêutico, como é o caso no esporte e no trabalho, exercidos moderadamente.

O estresse produz certas modificações na estrutura e na composição química do corpo, que podem ser avaliadas. Algumas dessas modificações são manifestações das reações de adaptação do corpo, seu mecanismo de defesa contra o estressor; outras já são sintomas de lesão. No conjunto dessas modificações o estresse é denominado sindrome de adaptação geral (SAG), termo cunhado por Hans Selye, o criador e pesquisador que levantou pioneira e profundamente a questão.

Em relação ao coração, tanto o estresse quanto a depressão estão relacionadas às doenças coronarianas. Quantitativamente, quanto mais persistente e intensa for o estresse, maior será a repercussão sobre o sistema cardiovascular. A vulnerabilidade que tem certos indivíduos ao comprometimento patológico das emoções sobre o coração, como é o caso das taquiarritmias, hipertensão arterial essencial, coronariopatia, etc., denota a existência prévia de vulnerabilidades constitucionais na estrutura desse sistema. São pessoas que acabam padecendo de cardiopatias em conseqüência do estresse da vida.

“Quando se diz que as questões emocionais estão atreladas a qualquer outra patologia, não se quer dizer que elas sejam sempre causas de doenças orgânicas, mas sim que as emoções acompanham as outras doenças quer como causa, como agravantes ou como conseqüência. Uma simples fratura ortopédica, que aparentemente nada tem a ver coma a psiquiatria, pode estimular um estado de extrema ansiedade e/ou depressão, tendo em vista seu componente doloroso, as limitações que impõe e mesmo diante de perspectivas pessimistas quanto à recuperação. ” (Ballone, GJ. 2003)

Os autores mais psicodinâmicos consideram a somatização, qualquer que seja ela, remanescente de fases mais primitivas do desenvolvimento da personalidade. Desde cedo a criança vivencia situações de estresse e, com certa freqüência, aprendeu a reagir somaticamente a esses estímulos. Depois de adulto, falhando outros meios mais eficazes de enfrentamento, a pessoa volta a lançar mão dos recursos da antiga somatização.

Considerando a hipótese das somatizações servirem como meio de obter atenção ou como forma de autopunição, o coração, tanto quanto ou até mais que outro órgão, poderá ser utilizado com tais objetivos.Várias queixas funcionais ou distúrbios orgânicos podem estar a serviço das emoções. Diante de algum distúrbio orgânico cardíaco prévio, as razões emocionais atuariam como expressivos agravantes no paciente psicossomático. A tendência à autopunição desses pacientes poderia ser percebida através da atitude da pessoa diante da doença. Vemos essa ocorrência no desleixo ao cumprimento da prescrição médica, nas provocações quase propositais dos sintomas e agravamentos.Há ainda razões emocionais para o desenvolvimento de algumas patologias em relação aos chamados comportamentos aditivos, como é o caso de beber, fumar, trabalhar excessivamente, mesmo quando o paciente é orientado pelo médico para moderar nessas atividades. Freqüentemente o comportamento aditivo (autodestrutivo) está a serviço de íntimas necessidades psicológicas, complexos, conflitos e experiências vividas não totalmente elaboradas. Tais casos costumam estar associados à complexos de culpa.

A fisiopatologia psicossomática comprometeria o coração, por descaso e negligência do paciente, seja pela ingestão excessiva de sal e de gordura, seja pela inalação da nicotina e do monóxido de carbono do cigarro, seja pelo abuso de álcool ou pelo estresse e trabalho excessivo.

A identificação é outro dos mecanismos geradores de somatização que podem repercutir no coração. Principalmente em se tratando de reações hipocondríacas (leves ou graves) e que assumem maiores proporções face à importância do coração na manutenção da vida do indivíduo. Basta saber que alguém morreu do coração e logo o hipocondríaco sente dor precordial. Se ocorre doença cardíaca em algum parente significativo, a probabilidade de queixas hipocondríacas voltadas para o coração é grande. Por fim, considerando todo o simbolismo atribuído ao coração como fonte de vida e sede das emoções, fácil é imaginar a sua utilização como veículo de expressão simbólica

Vivemos em um mundo onde as nossas experiências, principalmente as vivências afetivo-laboral, se misturam de tal maneira que estão repletamente carregadas e assim não conseguimos dá conta de controlá-la. Sendo assim expostos de maneira abrupta a estas contingências e sem parar pra fazer um auto-checagem dessas experiências ficamos vulneráveis às várias patologias modernas, tais como níveis altos de estresse e alterações cardiovasculares que podem ser perigosas caso estas contingências aversivas entrem num continuo.

“O ambiente afeta um organismo depois, bem como antes de ele responder. A estimulo e resposta, acrescentamos a conseqüência e não se trata de um terceiro termo numa seqüência. A ocasião em que o termo ocorre, e o próprio comportamento, e suas conseqüências estão inter-relacionadas nas contingências de reforço. Como resultado de seu lugar nessas contingências, um estímulo presente quando uma resposta é reforçada adquire certo controle sobre tal resposta. Ele não sujeita a resposta, como ocorre num reflexo; simplesmente aumenta a probabilidade de ela vir a ocorrer novamente e fá- lo em combinação com outras condições que afetam a probabilidade. Uma resposta reforçada numa determinada ocasião tem maior probabilidade de ocorrer em ocasião que lhe seja muito semelhante; em virtude porém, de um processo chamado generalização, pode surgir em ocasiões que partilhem apenas algumas dessas mesmas propriedades. Se, todavia, a resposta for reforçada apenas quando essa determinada propriedade estiver presente, tal propriedade adquiri controle exclusivo por via de um processo chamado discriminação.” (Skinner, BF. Sobre o behaviorismo, p.66)

A doença coronariana, produtora do Infarto do Miocárdio tem sido uma das patologias mais estudadas atualmente, tendo em vista a altíssima incidência em que acomete pessoas dos países mais civilizados. A ciência tem demonstrado uma grande variedade de fatores causais envolvidos no desenvolvimento da doença, sendo os mais freqüentemente referidos a predisposição genética, o tabagismo, a hipertensão arterial, a elevação dos níveis de colesterol, o estresse no cotidiano, a vida sedentária do homem moderno, a obesidade e a diabetes.

“não estamos apenas “atentos” ao mundo que nos cerca, respondemos-lhe de maneira idiossincrática, por causa do que já aconteceu quando estivemos anteriormente em contato com ele. E assim como o condicionamento operante não significa que uma pessoa “infira aquilo que ocorrerá quando ela agir”, assim também o controle exercido pelos estímulos não significa que “infira o que existe no mundo em sua volta.” (Skinner, BF. Sobre o behaviorismo, p. 67)

Alguns estudos consideram a participação de fatores constitucionais um dos elementos mais importantes no desenvolvimento da doença, outros enfatizam a importância prevalente dos fatores ambientais, tais como o aumento do nível de colesterol, o estresse, o fumo e a hipertensão arterial. Enfim, quanto a ordem de importância desses fatores não há ainda um consenso.

Em determinadas circunstâncias, a elevação da pressão arterial faria parte dessa resposta adaptativa. Isso, de certa forma, corrobora a idéia de que, em muitos casos, a hipertensão arterial pode ser incluída nos transtornos da adaptação. Quer dizer que determinado organismo que vive uma situação de estresse e exige uma resposta adaptativa poderá reagir com hipertensão arterial.

Em intensidade e duração discretas, a elevação da pressão arterial durante momentos de estresse pode ser considerada uma resposta perfeitamente fisiológica às solicitações do estresse. No paciente hipertenso, entretanto, observa-se não só intensidade maior da resposta hipertensiva, como também duração maior, sendo que, em alguns casos, os níveis de pressão se manteriam permanentemente elevados.

A analise experimental do comportamento utiliza o termo tempo de reação – RT, para designar o tempo da liberação do reforço manipulado pelo experimentador, para que a cobaia receba o mesmo. No intervalo em que é liberado e reforçado a cobaia pode vir a apresentar uma gama de comportamentos de contra controle, que são respostas emocionais tais como eriçamento dos pêlos, roer a barra da grade, que seriam comportamentos emocionais tido como raiva em humanos. em análise experimental do comportamento, temos como medir este intervalo pela unidade de controle da caixa de Skinner. Entretanto, em humanos não há como especificar este tempo de reação em horas, dias, meses ou anos, pois cada pessoa responde aos estímulos ambientais de maneira idiossincrática.

No que diz respeito às doenças coronarianas este tempo de reação pode ser corroborado pela freqüência constante de parentes em ambulatórios para medir pressão arterial ou em casos de explosões emocionais no ambiente doméstico ou do trabalho.

Segundo Eugene Bauwold, o perigo psicológico mais importante para o paciente com infarto agudo do miocárdio, é a demora, o intervalo de tempo em que o aparecimento do sintoma e a chegada ao local do atendimento médico. Em estudos recentes, a media de tempo de demora foi de 2,9 a 5,1 horas. A importância desse problema se torna visível quando se descobre que, 55 a 80% das mortes por infarto do miocárdio, ocorrem nas 4 primeiras horas após o aparecimento dos sintomas, portanto, as vidas da maior parte das vítimas poderiam ter sido salvas, se eles tivessem sido socorridas a tempo. Alem disso, a eficácia da terapia de reperfusão (trombólise, angioplastia ou ambos) depende muito do tempo ou do intervalo entre o inicio da oclusão coronária e a reperfusão bem sucedida. Consequentemente, mesmo entre os sobreviventes de um infarto do miocárdio, o tamanho do infarto e a gravidade das complicações clinicas estão relacionadas com essa demora. (Eugene Bauwold, Tratado de Medicina, 1973)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebeu-se que a real interferência das emoções nas cardiopatias, principalmente no que diz respeito a aumento da tensão, aumento da ansiedade, sentimentos de invalidez nos períodos de convalescença, dentre outros surgem e/ou intensificam-se através de comportamentos disfuncionais manifestos na dieta , no trabalho, nas relações interpessoais que aprendidos e somados fatores socioculturais (ontogenéticos), filogenéticos (herança gênica) contribuem de maneira significativa para o desenvolvimento de uma patologia;

Ressalta-se também a eficácia da análise funcional, uma forma terapêutica investigativa que proporciona um real entendimento da patologia pelo o paciente, como também a discriminação por parte do mesmo de seu repertório comportamental desajustado, ensejando no paciente através de aproximações sucessivas a modificação de seu comportamento almejando seu estado de saúde de maneira integral; valorizando o organismo como um todo, ao respeitar sua complexidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ballone, G. Psicossomática e Cardiologia - in. PsiqWeb, Internet, disponível em <http://gballone.sites.uol.com.br/psicossomatica/cardiologia.html>atualizado em 2003

CABALLO, Vicente. Manual de técnicas de terapia e modificação do comportamento. Ed. Santos, 2ª Edição, São Paulo – SP, 2002

CASTRO, ANDRADE E MULLER, mª da Graça,Tânia e Marisa. Conceito mente e corpo através da História. Psicologia em estudo. vol.11 nº.1 Maringá Jan./Apr. 2006

CORDIOLI, Aristides Volpato . Psicoterapias: Abordagens Atuais. 2º Edição, Ed. Artmed, Porto Alegre – RS;

EUGENE, Brauwold. Tratado de Medicina Cardiovascular . Ed.Roca , Vol. 2 , 3

º Edição. São Paulo-SP.

Kohlenberg, Robert J. & Tsai, Mavis, FAP – Psicoterapia Analítico Comportamental., ed. ESETEC 1991, Santo André – SP.

Mello Filho, J. Psicossomática Hoje. Ed. Artes Médicas, Porto Alegre – RS, 1998


SKINNER, B. F. Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Ed. Cultrix, 1974

ANÁLISE FUNCIONAL DA OBRA VIDAS SECAS


ANÁLISE FUNCIONAL DA OBRA VIDAS SECAS

JULIANNA TÉRCIA DE SOUSA FEIJÃO

DANILO CARVALHO DE SÁ

LOUISE UCHÔA TORRES


É Comum falar de família, clã, nação, raça e de outros grupos como se fossem indivíduos. Conceitos como o pensamento do grupo, o instinto do rebanho, e caráter nacional foram inventados para apoiar este procedimento. Entretanto é o indivíduo que se comporta. O problema apresentado pelo grupo maior é explicar porque os indivíduos se comportam juntos.”

(Skinner,1953/2000, p.340).

INTRODUÇÃO

A relevância da produção de um ensaio temático da obra vidas secas, não está somente porque o mesmo aborda a temática do fenômeno da seca. Mas sim porque através das caracterizações literárias feitas por Graciliano Ramos a seus personagens e ambientes, proporcionam a percepção de uma seca muito maior que a existente como fenômeno ambiental e geográfico.

Propõem uma seca de vida, de dignidade, identidade, linguagem, afetividade, uma seca cultural e existencial perante a sociedade. A obra Vidas Secas nos permite compreender alguns aspectos acerca da formação de grupos, famílias, autoritarismo, e instituições que regem o cotidiano dos indivíduos, contingenciando seus comportamentos. Dentre estas instituições destaca-se a família e suas composições que segundo Hellpach (Dicionário Dorsh/2001, p.381) nela operam dependências relativas à matéria, ao tempo, e ao espaço. Trata-se, portanto, de um fato natural, um organismo social, uma organização social.

È nítido na obra de Graciliano, a influência, a reciprocidade entre a instituição família e outros setores sociais como: Igreja, Estado, Constituições, Códigos de Lei, Políticas Públicas, as quais compõem as metacontingências cerimoniais e tecnológicas que interferem constantemente no comportamento dos organismos individuais e sociais. Pretende-se neste ensaio temático estabelecer uma análise funcional da obra, mostrando os antecedentes que contingenciaram a família de retirantes a executar o mesmo padrão de comportamento; como também observar o comportamento manifesto (ser retirante e manifestar apatia); e as conseqüências individuais e coletivas obtidas através do padrão comportamental da família.

Será utilizado também para a análise do livro de outra unidade funcional que verifica as relações entre classes de operantes emitidas em grupos; trata-se da metacontingência que irá demonstrar o quanto esta família retirante apóia-se em comportamentos cerimoniais que não ensejam a variabilidade comportamental, mas sim apenas a manutenção dos comportamentos manifestos. A análise funcional é percebida no livro através de alguns fatores como: Contingência Ambiental, Privação, Linguagem, Cultura, Personificação da cachorra Baleia considerada pelo autor como integrante da família, todas as circunstâncias mostradas na obra e analisadas em um viés analítico comportamental é que este ensaio elenca algumas hipóteses para a prática comportamental familiar descrita por Graciliano em Vidas Secas.

Na obra Vidas Secas observa-se uma estrutura familiar rudimentar, perpetuada de geração em geração dentro de um contexto miserável, no qual os retirantes vivem no limite da sobrevivência somado a falta de repertório comportamental dos mesmos.

Os pais e os filhos citados em Vidas Secas foram modelados pelo ambiente hostil e emitem comportamentos mínimos de fala, comunicando-se a maioria das vezes de forma gutural. O ambiente da caatinga descrito por Graciliano Ramos privou a família de Fabiano de aprender, como também de entrar em contato com estratégias básicas de educação familiar, principalmente em relação aos filhos; os privando de adquirir habilidades sociais como demonstra Del-Prette em seu livro: psicologia das relações interpessoais, no qual afirma existir três estratégias básicas para a educação dos filhos; sendo: 1) através das conseqüências do comportamento; 2) através do comportamento governado por regras; 3) modelação.

Mas a modelação em Vidas Secas é feita pelo ambiente, tanto os pais como os filhos aprendem comportamentos de sobrevivência e regridem a uma época primitiva de suprimento das necessidades primárias, ou seja, comidas, água, seriam mais reforçadores que a própria afetividade. Devido a educação punitiva imposta ambientalmente a esta família, os hábitos de seus constituintes eram simples,curtos, mínimos, delimitando-se a busca de um melhor ambiente; a aquisição de alimento; obtenção de água; diminuição do gasto de energia, principalmente da fala; aumento da comunicação gutural e da agressividade.

A execução destes comportamentos deve-se a antecedentes acentuados nas práticas culturais e ontogenia , logo a cultura do sertão tem uma estreita relação com a chuva. O chover é extremamente significativo para os habitantes do sertão, pois diminui contingências punitivas como: escassez de água, alimento e a elevação de altas temperaturas, estímulos aversivos para indivíduos com aspirações, que almejam modificar o cenário da seca. Em detrimento a estes contingentes inúmeras famílias tornam-se retirantes, ou seja, procuram um lugar seguro que lhes permita extrair seu sustento, uma terra produtiva.

De acordo com o estudo de práticas culturais pela análise experimental do comportamento, um ambiente social tem sua dinâmica constituída de dois tipos de metacontingência: as cerimoniais e as tecnológicas. Na primeira tipologia temos como instituições: a igreja, o estado, a família que constroem, mantém e avalia os comportamentos sociais; mas que não geram modificações adaptações dos comportamentos frente às relações existentes destes indivíduos com o meio social. A segunda tipologia refere-se as metacontingências tecnológicas : leis, códigos, constituições, as quais são passíveis de experimentação, causando adaptabilidade frente ao ambiente tornando os comportamentos aprendidos passíveis de generalização e variabilidade.

Esta variabilidade comportamental aliada a contingentes filogenéticos, ontogenéticos, culturais controlam as manifestações comportamentais individuais e coletivas em um meio social. É justamente neste ponto que ocorre as maiores privações da família de retirantes da obra vidas secas, pois a mesma possui inúmeras contingências , ainda que punitivas, mas possuem. O que a família em questão não tem é um repertório comportamental vasto diante das circunstâncias da seca, maximizando assim a manifestação de comportamentos primitivos relativos a sobrevivência.

Outro fator observado na análise do livro trata-se do desamparo individual e coletivo aprendido pela família. Com a comunicação cada vez mais escassa, os comportamentos verbais diminuíam. Para que haja um comportamento verbal se faz necessário que organismos gerem estímulos que afetem outros organismos, instituindo assim uma comunidade verbal. A linguagem demonstrada em Vidas Secas só reforça a idéia de o quanto o operante verbal é aprendido, assim como qualquer outro comportamento, pois ele também é definido funcionalmente e, portanto, está sujeito a controle de estímulos.

Dessa maneira o comportamento verbal é fundamental para a ligação entre contingências e metacontingências, logo formam regras que preenchem o vácuo entre o comportamento manifesto e a conseqüência a longo prazo; além de contribuir o reforçamento social ao fornecer conseqüências que promovem a manutenção do comportamento governado por regras até o instante em que haja a distinção das conseqüências a longo prazo. Alguns fatores devem ser levados em consideração na análise da obra como:

PRIVAÇÃO:

A vida de sertanejo é constantemente atingida pela ausência e escassez de uma ampla variedade de estímulos tais como: água, comida, saúde, suporte jurídico, educação, afeto, insegurança (moradia), variabilidade climática e etc. O dicionário Dorsch conceitua privação como sendo:

“subtração ou retenção de objetos ou estímulos de satisfação. Considera-se sobretudo, a privação como “privação social” ou “isolamento social”. Para esclarecer a importância investiga-se como experimentos de privação (especialmente em animais) os efeitos da fome e sede (como p. ex. experimentos de aprendizagem), a retirada do sono, o efeito do isolamento social duradouro, como p. ex. em crianças órfãs hospitalizadas ou em situações especiais de trabalho, a escassez de estímulos em diversas fazer do desenvolvimento”

“o menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão”

“mas o pequeno esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, e fechou os olhos”

“... frio como um defunto” pgs. 09 – 10

Verifica-se que após tanto tempo caminhando embaixo do sol forte, privação de água, comida, e quase sem perspectivas de mudanças ou o findar das buscas por um lugar que a família pudesse se acomodar, o menino mais velho começa então a fraquejar. Fabiano como é um homem bruto, segundo suas próprias palavras “um bicho”, não tem trato com a família, não consegue perceber as diferenças de que cada pessoa reage de maneira distinta ao mesmo estimulo principalmente em seus filhos.

Skinner fala sobre a privação da seguinte maneira:

“Quando um organismo for provado da oportunidade de beber será importante obviamente que o beber tenha uma maior probabilidade de ocorrer na primeira oportunidade oferecida ao animal. No sentido evolucionário isto “explica” porque a privação de água aumenta a freqüência de ocorrência de todos os comportamentos condicionados e incondicionados relacionados a ingestão de água” pg. 155 – 156 ciência e comportamento humano.

A condição de retirantes nordestinos está também relacionada a vida nômade de povos antigos que buscavam (exploravam) sempre a mudança de ambiente quando as condições não os eram favoráveis. Quando Skinner discorre sobre a privação de sujeitos infra-humanos, devemos nos ater que os mesmos possuem um repertório comportamental bem mais amplo e que seus reforçadores primários alem dos anteriormente citados incluem ainda o afeto, a segurança, o equilíbrio do ciclo circadiano (o sono) e etc. A exemplo da segurança um trecho do inicio do romance ratifica tal conceituação:

“num cotovelo do caminho avistou um canto de areia, encheu-o a esperança de achar comida, sentiu um desejo de cantar”

“... estavam no pátio de uma fazenda sem vida... os moradores tinham fugido” pg. 12.

Portanto, a condição de provação daquela família de retirantes os angustiava, os frustrava em demasia. Isso os fez sair de um local não mais favorável e explorar um novo ambiente. O homem busca sempre a preservação da espécie e para isso muda-se o ambiente, ou seja o comportamento que produz conseqüências (modificações no ambiente) e é afetado por elas chamamos de comportamento operante. Conhecer o clima daquele ambiente hostil e responder de maneira a explorar e aprender novas habilidades para sobrevivência da seca é um operante.


Contingências ambientais: uma análise funcional

A descrição de um ambiente físico de um determinado local possibilita a visualização de como organismos se comportam e interagem diante dos estímulos. Portando, as variáveis ambientais que se pode observar no romance são: clima seco, com altas temperaturas, escassez de chuvas, vegetação composta por arbustos, caracterizando a caatinga, rios não perenes. As casas de pau-a-pique, animais típicos do sertão nordestino ais como: caprinos, bovinos, aves de rapina, principalmente comensais como urubus e mamíferos de pequeno porte como preás. A ocupação dos trabalhadores eram em sua maioria vaqueiros, lavradores de subsistência, ou seja, apenas em tempos chuvosos e para manutenção do pequeno grupo. Uma cultura baseada nos valores do coronelismo, onde autoridades ditavam regras, um forte apego na religião católica e economia de lavoura e comercio ainda em sistema de escambo.

“A caatinga estendia-se de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.”

...”pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés.” Pág 9-10

A família de Fabiano e Sinhá Vitória, a fome, sede, a seca, todo um processo de privação (tanto de reforços primários, quanto de identidade, cidadania, direitos) caracterizam-se como estímulos antecedentes de um ambiente hostil. Segundo Catania,

“Um estímulo antecedente é simplesmente algo que vem antes de uma conseqüência, simplesmente o que é causado por um evento ou o que acontece como resultado dele...o termo estímulo é freqüentemente restrito aos eventos físicos específicos, tais como luzes, som toques. Mas os organismos podem responder a características variadas do ambiente, incluindo as relações (p. ex. à esquerda de, acima de), o comportamento complexo (p. ex. expressões faciais, tons de voz), as propriedades funcionais (p. ex. comestível, confortável) e assim por diante.” Pág 28-29

O significado de operante em Vidas Secas

Possuímos algumas variáveis dos qual nosso comportamento é função, variáveis filogenéticas, variáveis ontogenéticas e variáveis culturais.

“Seleção filogenética, a evolução, ao longo do tempo biológico, de populações de organismo e suas característica, tais como o comportamento; seleção ontogenéticas, a modelagem do comportamento por suas conseqüências durante a vida de um organismo individual; seleção cultural, a sobrevivência de padrões de comportamentos à medida que são passados de um individuo para outro. Esses tipos de seleção dependem de comportamentos que mudam tanto durante a ontogenia quanto durante a filogenia.” Catania, A. Charles, pág 57

Como mencionado anteriormente, comportamentos inerentes à todas as espécies tais como a obtenção de reforçadores primários e exploração do ambiente, faz com que consigamos modificar tanto nosso comportamento como o meio pelo qual estamos inseridos. Estes comportamentos são ditos como filogenéticos. Os comportamentos ontogenéticos são específicos a cada organismo, ou seja, parte do repertório que já possuo e conforme minha historia de vida. Além do mais estamos inseridos num sistema que é bem maior, com suas regras, sejam elas políticas, educacionais ou religiosas, seremos de alguma maneira afetados por elas e responderemos ou não a estas regras conforme nosso histórico de reforçamento.

A seca possui um contingente de estímulos e os mesmos fazem com que a família de retirantes responda de maneira a melhor adequar-se a ela.

“Fabiano tomou a cuia, desceu a ladeira, encaminhou-se ao rio seco, achou no bebedouro dos animais um pouco de lama. Cavou a areia com a unhas, esperou que a água marejasse, e debruçando-se sobre o chão, bebeu muito.” Pág 14

“O comportamento que pode ser modificado por suas conseqüências chamamos de comportamento operante” (Catania, A.Charles pg. 129).

Portanto o comportamento de explorar um novo ambiente e encontrar um rio “seco” e daí obter água para sobrevivência da sua família passa a ser um operante.

Estímulos antecedentes correspondem a alterações em condições ambientais

“Em condições sociais de escassez, de privação e de falta de perspectivas, as possibilidades de amar, de construir e de respeitar o outro ficam bastante ameaçadas. Na medida em que a vida a qual está submetido não o trata enquanto homem, suas respostas tendem a rudeza da sua mera defesa da sobrevivência.

As milhares de famílias sem terra, sem casa, sem trabalho, sem alimento, enfrentam situações diárias que ameaçam não só seus corpos – território último do despossuído – mas simultaneamente seus vínculos e subjetividades. Este estado de privação de direitos ameaça a todos, na medida em que produz desumanização generalizada.” Kaloustin, S.M, pág 55

Tal estado de privação faz com que o individuo comece a responder alguns estímulos de maneira a modificar (manter) o ambiente, respostas em relação a privação pode-se citar a exploração do próprio ambiente em busca de suprir as necessidades iminentemente básicas do ser humano, tal como a obtenção de água e a procura de alimentos. Uma resposta é sempre uma ação do organismo em função do ambiente.

Diante de um ambiente tão hostil, o foco da família passa a ser a sobrevivência, não mais aspectos outrem que por hora deixaria a família vulnerável a toda aquela violência ao qual estão submetidos desde sempre.

A seca, a falta de alimentos, a escassez de água, o descaso de uma sociedade desigual, o não acesso aos meios culturais, de lazer e de cidadania ao qual temos direito são formas de violência que vão aos poucos fazendo com que Fabiano se convença cada dia de sua condição “bicho” para dar conta de enfrentar essa realidade.

“Deu-se aquilo porque Sinhá Vitória não conversou um instante com o menino mais velho. Ele nunca tinha ouvido falar em inferno. Estranhando a linguagem de Sinhá Terta, pediu informações. Sinhá Vitória, distraída aludiu vagamente a certo lugar ruim demais, e como o filho exigisse uma explicação encolheu os ombros. O menino foi até a sala interrogar o pai, encontrou-o sentado no chão... ”

“... riscou em seguida a forma do calçado e bateu palmas:

-- Arreda.” Pág 54

Outra resposta emitida pelos antecedentes ambientais é desonestidade dos comerciantes que frente a mínima oportunidade buscam vantagens, pois a dificuldade de manutenção de um ciclo estável comercial é constante.

“Fabiano tinha ido a feira da cidade comprar mantimentos. Precisava sal, farinha, feijão e rapaduras. Sinhá Vitória pedira além disso uma garrafa de querosene e um corte de chita, mas o querosene do Seu Inácio estava misturado com água e a chita da amostra era cara demais.”

“... A tarde puxou o dinheiro, meio tentado, e logo se arrependeu, certo de que todos os caixeiros furtavam no preço e na medida...” pág 26

Tanto o ambiente domestico como o social não possuem variabilidade de estímulos que eliciem um repertorio amplo de respostas que possibilitem uma posterior seleção comportamental a fim de alterar o ambiente.

Portanto, a família de Fabiano apresenta dentro desses ambientes apenas respondentes de eventos como, desonestidade dos comerciantes, o coronelismo, agindo sempre de forma submissa.

Dentro dos conseqüentes apresentados por essas respostas estão a submissão, a ignorância e a fuga que confirma-se quando a família age afim de evitar que continuem a sofrer.

Esquemas de reforçamento intermitentes

A vida no sertão nordestino é em suma marcada por esquemas intermitentes de reforços em todos os aspectos. As pessoas por mais que trabalhem e tentem, não conseguem obter respostas imediatas, tal como em épocas de plantio; eles preparam e semeiam a terra, mas ainda assim depende do fator chuva pra obterem resultados. Ou seja, por mais que emitam uma quantidade X de comportamentos, eliciado o primeiro estimulo (uma alteração no ambiente que é de plantar) deverão esperar um numero X de tempo decorrido do estimulo antecedente para que so então surja as primeiros brotos. Esse processo é chamado de reforço de intervalo variável.

Percebe –se que no decorrer de toda a obra de vidas secas esse processo do sertanejo, não só no que diz respeito a sua dependência climática, mas nas suas relações familiares e sociais qu a estrutura dessa relações são reforçadas por esses esquemas intermitentes.

“Grande parte do comportamento, entretanto, é reforçado apenas intermitentemente. Uma determinada conseqüência pode depender de uma serie de eventos não facilmente previsíveis (...) como se deveria esperar, o comportamento reforçado apenas intermitentemente muitas vezes mostra uma freqüência de ocorrência imediata, mas os estudos de vários esquemas em laboratórios revelaram complexidades surpreendentes. Em geral este comportamento é marcadamente estável e mostra grande resistência à extinção. ”(SKINNER, B.F, pág. 110).

Esta resistência e sobrevivência ao ambiente hostil ratificam o que Skinner defende sobre reforços intermitentes dos quais há uma dificuldade de extinção, pois o sertanejo sempre vai buscar incessantemente responder a todo e qualquer estimulo relacionado à conseqüência, que pode ser: a procura por alimento, boa colheita, água, manter relações, mesmo que as mesmas lhes sejam um tanto aversivas (a exemplo dos comerciantes e autoridades locais) e a segurança de uma moradia mesmo que a mesma não seja a sua. Todas as respostas estão relacionadas à obtenção de reforços primários, que são de sobrevivência da espécie.

Considerações finais

Diante de toda analise comportamental da obra vidas secas, ficou nítido os antecedentes que induziram aqueles personagens a emitirem comportamentos primários descritos na obra, como:a falta de identidade dos filhos do casal, a desumanizarão generalizada colocando a cadela baleia no mesmo patamar de igualdade dos demais membros da família; excesso de comunicação gutural aprendida através de conhecimentos tácitos; a não demonstração de afetividade em detrimento a valorização de comportamentos relativos à sobrevivência.

Dessa maneira, confirma-se o parte teórico utilizado (analise experimental do comportamento), por levar em consideração três contingentes principais de reforçamento : o filogenético, o ontogenético e o cultural que controlam os estímulos que permeiam o cotidiano dos indivíduos e organizações sociais . a família em vidas secas repassava cerimonialmente seus comportamentos para construir e manter suas praticas culturais, em vez que os contingentes eram muito punitivos e os privavam de produzir metacontingencias tecnológicas que primassem pela variabilidade comportamental destes indivíduos.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

CATANIA,A. charles, APRENDIZAGEM : COMPORTAMENTO, LINGUAGEM E COGNIÇAO, 4ª Ed, Editora Artmed, Porto Alegre- RS, 1999 .

DEL PRETTE, A & DEL PRETTE. Z.A.P, PSICOLOGIA DAS RELAÇOES INTERPESSOAIS – VIVENCIAS PARA O TRABALHO EM GRUPO. 2

ª Ed. Editora vozes, Petrópolis, RJ, 2002.

DORSCH, Friederich. HÄCKER, Hartmut & STAPF, Kurt-Hermann, DICIONARIO DE PSICOLOGIA, 2ª Ed. Editora vozes, Petrópolis- RJ, 2006.

KALOUSTIN, S.M, (org) FAMILIA BRASILEIRA – A BASE DE TUDO, Editora UNICEF e CORTEZ, São Paulo- SP, 1998.

SKINNER, B.F,CIENCIA E COMPORTAMENTO HUMANO, 11ª Ed. Editora Martins fontes, São Paulo – SP. 2003.

TODOROV, João Cláudio, et al. METACONTINGENCIAS : COMPORTAMENTO CULTURA E SOCIEDADE. Org. J.C. TODOROV, R.C.Martone, M.B.MORE IRA.1ª Ed. Editora ESETEC, Santo André – SP. 2005.

ensaio apresentado em 2006 disciplina psicologia e familia

quinta-feira, 12 de março de 2009

um novo caminho começo a trilhar

Este é o inicio de uma nova emporada de minha vida, o qual decido viver um pouco mais intensamente o que tenho aprendido. sao conceitos que devem ser revistos, regras devem ser mudadas, propostas analisadas, enfim, mudar as contingencias ao meu favor mas de uma maneira cooperativa com sempre tenho feito. afinal, mudanças sao bem vistas quando mudas paulatinamente.